Mãe

Mais um ano, mais outro. A minha mãe cada vez maior. As mãos e os braços cada vez maiores, abraçam cada sol e cada lua. Estão onde eu estou. Abraçam o frio como ninguém. Acendem uma lareira e o calor embrulha-nos. Sabe a abraço de mãe. Os dedos não se gastam, gretam e ficam cada vez mais rijos. Preparam tudo com capricho. O bacalhau tem horas certas para demolhar, o presunto espessura certa para se cortar, a cebola tem quantidade certa de azeite para se refogar. Toda a casa cheira a mãe. Os cheiros abraçam os sentimentos e o calor da lareira abraça o frio. Estou em casa. Posso viajar e a minha mãe continua enorme. Faz parte de cada pensamento e de cada sentença. Faço assim ou faço assado porque desde pequena foi sempre assim ou foi sempre assado. Entranhou-se em mim. A cabeça dura de mãe com ventre macio. Todas as teimosias pelas suas meninas. Tudo à frente pelas suas meninas. A minha mãe que caminha sempre em frente, sapatos de rampa ou salto pouco alto. Com uma tira a meio, de preferência. Uns sapatos confortáveis porque o apoio do corpo tem que ser confortável. A minha mãe está cada vez maior. A minha mãe é o meu apoio mais confortável.

Sem comentários:

Enviar um comentário