METÁFORAS CULINÁRIAS EM TEMPO DE AUSTERIDADE


"Pão pão, queijo queijo". Cada um com as suas expressões. Não fossem as tradições alimentares e culinárias tão variadas, não teríamos também tão variada lista de figuras de estilo alimentícias de país para país. Em Portugal, vivemos dias difíceis e, para eles, temos as mais variadas expressões e metáforas culinárias. É como quem diz: "estamos feitos ao bife!" Já a Alemanha tem a tradicional "Alles hat ein Ende, nur die Wurst hat zwei", ou "tudo tem um fim, apenas as salsichas têm dois". Enquanto nós continuamos "fritos", "j’ ai la frite" em francês significa o contrário e utiliza-se quando se quer dizer que se está bem e com energia.  Querem mais expressões? "It’s piece of cake" – é fácil, basta clicarem aqui!

E porque o meu blogue tem estado em "águas de bacalhau" e a austeridade está "hasta en la sopa" - ou seja, não nos larga, deixo-vos este diálogo com expressões que vou ouvindo por aí...

- Já leste que vamos ser visitados pela Alemanha? Será uma oportunidade de puxarmos a brasa à nossa sardinha?
- Esquece, com os alemães não podemos ir aos figos!
- Certo, mas temo-nos a nós. Os portugueses são um povo lutador, não somos nenhumas cabeças de alho chocho.
- Gostava de estar optimista, temo-nos a nós mas não temos dinheiro e eu todos os dias confirmo que é impossível fazer limonada sem limões!
- Portugal pode estar a comer o pão que o diabo amassou, mas não podemos desanimar assim…
- Portugal não, o zé povinho! Não te esqueças que é sempre o pão do pobre que cai com a manteiga para baixo.
- Vamos acreditar que dias melhores virão, as crises são cíclicas e já sabemos que não há fome sem fartura.
- Não estou optimista como tu. A fome pela fartura é a do povo pelas elites. Não aguento mais com tanta mentira e insensibilidade que continuam a ser ditas em tom de carapaus de corrida e que invadem as nossas casas com a força de tufões que destroem tudo pelo caminho.
- Tens razão, já chega. Vamos mandar tudo às favas e emigrar!

A DEFESA DOS ALIMENTOS NATURAIS

Somos uma geração do século XXI, geneticamente próxima do Paleolítico, a viver com profundas modificações da alimentação e novos padrões de estilo de vida que nos empurram para as “doenças da civilização”.

Hoje não tive tempo para escrever nada, então deixo aqui um pouco do que li. Neste artigo do Professor Pedro Moreira, gostei especialmente deste parágrafo, que tão bem retrata o desentendimento entre o nosso organismo e os novos "alimentos". Podem ler todo o artigo aqui.

UMAMI


- Vim buscar-te para o piquenique.

- Se não respondi é porque não estou minimamente interessado em ir.

- Eu percebi, por isso vim cá. Não te vou deixar embrulhado em pensamentos chuvosos com um sol tão simpático lá fora.

- Não insistas, não gosto de piqueniques, fico muito melhor a comer uma sandes de atum.

- Então comes a tua sandes de atum no piquenique. Vais ver que até fica mais saborosa.

- Não fica mais saborosa, é o mesmo pão com o mesmo atum.

- Guarda os pragmatismos para quando são necessários! Sabor é diferente de paladar. Paladar é um dos 5 sentidos. Sabor é um prazer dos sentidos, é alegria! É um conceito holístico, percebes?

- Doce, azedo, amargo, salgado - 4 sabores básicos. Assim se chamam. Sa-bo-res.

- Não são 4, são 5. Mas anda, ensino-te coisas interessantes no piquenique.

- Os sentidos é que são 5.

- São 5 e precisam ser estimulados!! Servem para sentires o ambiente, para traduzires o mundo físico para a mente e não para a tua mente fechada os inadaptar ao mundo físico. M-U-N-D-O com pessoas, sol, chuva, arco-íris, rios, risos, relva, areia, árvores, picadas de mosquito, gritos de crianças, cocó de cão nos chinelos, rissóis, melancia, futebol, óculos de sol e toalhas aos quadradinhos. Anda embora porque este apartamento é uma ofensa aos estímulos! Já preparei a lancheira, trouxe azeitonas para ti.

- Vou só ali buscar a cana de pesca e já venho...

- Não gozes... Trouxe cerveja.

- Ok convenceste-me.

- Oh yeeeah!

- Pouca excitação se fazes o favor, antes que eu mude de ideias.

- Umami.

- Umami o quê?

- É o quinto sabor. É como tu, agridoce...

A REVOLTA DAS BANANAS

Não se enganem pela fotografia que lhes chama banana-ananás, porque mais correcto seria chamá-las ananás-banana, assim como os amiguinhos ali do lado, os maracujás-banana, que têm sabor de maracujás e forma de bananas. As chiquitas espertas quiseram inovar e conseguiram um guarda roupa arrojado, pago a preço de experiência tropical em primeira classe. Abrilhantaram a montra e deixaram na sombra, debaixo da mesa, as corriqueiras bananas, tristes por cada turista que passa e nem as vê. Elas que numa investida verdadeiramente heróica conseguiram chegar a todo o mundo e adaptar-se a todos os gostos, matar fome, equilibrar intestinos, diminuir cãibras a atletas, fazer tão bem à saúde de todos, ser tantas e tão variadas - como a banana-maçã, a banana-prata, a banana-pão, a banana-ouro, a banana-do-gabão, a banana-da-terra, a banana-figo e tantas outras - e no final das contas ficam ali menosprezadas por aqueles que ingratamente inventaram a expressão que lhes apetece chamar agora, "esses bananas"!

O sindicato das bananas deixa aqui este desabafo contra a segregação frutal, sem tirar o valor às suas colegas ananás-banana e maracujá-banana, que lá que são bonitas e saborosas são, mas por um futuro frutífero para todos, reivindica trocar a cesta de lugar!