MEIA ANDREIA


Ilustração: Cecile Veilhan
Era entre a uma e meia e as duas e Andreia ainda dava meia volta na cama antes de pensar na meia refeição que iria fazer, aquela que é pequeno-almoço e que é almoço e que na cabeça da Andreia era apenas uma espécie de tarefa, ou a meia tarefa que ela meia a dormir comia antes de ir para o trabalho meia a correr. Meia indecisa entre a meia de leite com torrada e o prato do dia, Andreia decidia sempre comer aquela dose de hidratos de carbono que no prato vêm meia dose de batata frita e a outra meia de arroz, mas a carne nunca comia, dizia ser vegetariana, mas era só meia, como ela dizia, “porque peixe vegetarianos podem comer!”.

Era toda meia, a Andreia, meia preguiçosa, meia apressada, meia caminho andado meia caminho corrido, meia cheia de ideias e a outra meia cheia de dificuldades. Ficava meia chateada quando lhe diziam que não conseguia por em prática as suas ideias mas Andreia ficava a meia voz, sem palavras termo que meia perdida não encontrava porque ficava meia nervosa.

Meia perdida de amores ficava tímida e meia chateada com ela própria de cada vez que meia encabulada corava quando sentia o coração a bater pelo rapaz da camisa de ganga. O que lhe valia é que já estava meia habituada e, na verdade não sabia o que sentia, estava meia dividida entre a admiração e a paixão.

Meia decidida quis mudar a meia parte que lhe empatava a breve meia vida. Meia volta à almofada, meia volta à cabeça e Andreia acordou decidida a encontrar a outra meia que sempre deixou entre as meias decisões que meia atrapalhada sempre tomou. Reflectiu já meia a dormir e chegou a uma conclusão. Andreia no fundo era meia igual a todas as pessoas. Afinal a justificação era que em tudo Andreia era meia com a razão e a outra meia com o coração!

A palmeira que dá cocos


(cocos prontos para se transformarem em palmeiras)
Ricas palmeiras que na cabeça de muitos pequeninos dão bananas! Compreensível comparação, até porque ninguém é tolo, ninguém compara macieiras com palmeiras. Portanto, cada qual em sua latitude! Ora bem, para ninguém confundir, bananeiras dão bananas e palmeiras dão muitas coisas. Dão cocos, dão dendém e dão belas fotografias à beira mar! De entre as muitas variedades, o coqueiro e o dendezeiro são as palmeiras mais conhecidas. Alguma atenção e lá está, entre folhas em riste, um conjunto de cocos, verdes ainda (os dauas) ou então maduros, prontos a caírem na cabeça mais desafortunada. Em zonas turísticas é comum depararmo-nos com o sinal “Cuidado com os cocos”. Muito obrigada pela informação mas o que posso fazer em relação a isso? Não os vou provocar, prometo! Por sorte atravesso o Ilhéu das Rolas, francamente o sítio com mais coqueiros por metro quadrado que, até hoje, visitei, três horas de caminhada com o constante som da queda dos temidos sem que nunca se atravessassem na nossa trajectória. Assim se quedam, assim se jazem no conforto da sombra da árvore mãe e assim ganham vida novamente, quando da casca já apodrecida se libertam as raízes sequiosas por vida! Uma vida cheia de energia, por isso engane-se quem pensa que a fruta engorda pouco. Devia ficar-me pelas 3 horas de caminhada e por uma água de coco, mas é preciso habilidade para subir uns metros na vertical para apanhar um daua. Mais fácil é apanhar o maduro que já caiu, bater numa pedra, comer o coco e reaver todas as calorias perdidas. Aí sim, sinto-me restabelecida, metade gordura, felizmente boa, algum açúcar e muitos sais minerais. Faço de conta que não estou a ser apanhada na fotografia e continuamos até à praia.

No próximo texto falo sobre o dendezeiro, a palmeira que é conhecida por palmeira! Até lá vou tentar uma foto dedicada do dendém!


A PRESSA NÃO PASSA DEPRESSA


Ilustração: Susan Gal
Alexandra não percebe porque é que todos temos que viver ao mesmo ritmo. Ela tem pressa para ser maior, tem pressa para ter corpo de mulher, tem pressa para tirar o aparelho dos dentes, tem pressa para poder comprar a própria roupa, para sair da escola primária que é sempre a mesma coisa e passar depressa para a universidade. Que aborrecimento ter que passar por todas as etapas como a Maria, a Eduarda e a Francisca. Elas não têm pressa mas Alexandra tem!

Alexandra não tem calma porque sobra-lhe tempo e ela não sabe o que fazer com ele. Alexandra tem pressa porque também tem vagar. 

Se ao menos fosse como nos contos infantis e existisse um ponteiro mágico no seu relógio que acelerasse o movimento. Mas não. E Alexandra continua dia após dia, aula após aula a pensar como será ser grande, poder ter uma profissão, poder usar saltos altos, ter um telemóvel cheio de funções e ser uma empresária cheia de afazeres. Às vezes desperta com um grito da professora a repreendê-la por mais uma vez estar no mundo da lua! Alexandra olha para o relógio e ainda faltam 36 minutos para a aula terminar. Que eternidade, está com pressa de sair!

Acelerar significa aumentar a rapidez, diminuir o tempo de espera - leu Alexandra no dicionário.

Mas como é que se pode acelerar o dia-a-dia, acelerar a vida?

Alexandra pensou no botão do telecomando do leitor de vídeo, aquele que se chama fast forward e que acelera as imagens e começou a traçar um plano.

1- Vestir à pressa.
2- Engolir o copo de leite de uma vez só.
3- Lavar os dentes apenas uma vez por dia e depressa.
4- Não andar, correr para todo o lado.
5- Aprender a matéria da escola depressa. (Aprender depressa? … Hum, esta vai ser difícil, é melhor trocar por escrever depressa e fazer contas à pressa).
6- Mastigar pouco para almoçar e jantar mais depressa.
7- Contar carneiros a correr para adormecer mais depressa.

Assim, depressa será amanha!

E assim fez. Alexandra vestiu à pressa e nem se apercebeu que tinha um sapato de cada cor. Engasgou-se com o leite e sujou a camisola toda, mas não podia perder tempo a trocar. Guardou para a noite lavar os dentes. Correu para a escola porque não podia esperar pelo autocarro. Escreveu tão rápido que a professora não percebeu uma única palavra da composição. Mastigou rápido e nem saboreou. Contou carneiros, contou durante tanto tempo que já ia no número 12565 e o sono ainda não tinha aparecido. Estava muito acelerada, a Alexandra, mas o seu relógio não acelerou. Vai demorar exactamente o mesmo tempo a amanhecer novamente. Toda a pressa foi em vão. E com este pensamento adormeceu…

PIQUENIQUE NA MODA AFRICANA

Modelo da colecção 2012 de Stella Jean
Porquê não trocar a típica toalha quadriculada branca e vermelha por um colorido tecido africano? Conhecido como capulana em Moçambique, chitengue no Malawi, kikoi na África do Sul e kanga em boa parte da África oriental, o tecido africano é o mais versátil de todos os tecidos! Imaginação e criatividade não faltam a quem os usa diariamente - para vestir, para carregar os filhos, para carregar o que quer que seja, para limpar, para decorar, para ir à praia ou até para fazer um modelo de alta costura! Aqui, para não fugir ao tema desta blog, sugiro que o usem para sair de casa e ir para o parque ou para a praia, o estendam à sombra e se deliciem a piquenicar qualquer coisa, qualquer conversa ou qualquer leitura que saiba bem ao ar livre, debaixo ou não de um embondeiro...

Antes de ser chocolate

Cacau
É um casca dura! Bem curioso quem dali conseguiu obter chocolate pela primeira vez... difícil de partir e à primeira vista não se conseguiria mais nada do que chupar a escassa goma que só vale o esforço porque é mesmo saborosa, tanto mais doce quanto madura estiver, mas sempre com aquele toque ácido carregado de vitamina C e antioxidantes! Mas foi bem pensado, sim senhor (ou senhora) que pela primeira vez aproveitou cada grão (a amêndoa de cacau), já sem goma e decidiu processá-los. É bom pensar que em todos os capítulos da história existiram pessoas aptas para contrariar a crise. Imaginem a quantidade de iguarias que podem estar escondidas em tudo o que desperdiçamos dos alimentos que conhecemos e mais ainda dos que não conhecemos? Felizmente no cacau tudo se aproveita, mesmo a casca que serve para trabalhos manuais. É todo prazeroso. Não é por acaso que existe tanta magia à volta do chocolate. Aqui vejo crianças a deliciarem-se com a goma da amêndoa que mais tarde vai ser chocolate. Muito obrigada pelo esforço meninos e meninas, agora já se pode por a secar para depois fermentar e torrar! Mais tarde servirá para deliciar outros meninos e meninas, noutra parte qualquer do mundo!


(Aqui têm informação sobre a história do cacau de São Tomé, docemente descrita pela família Corallo. Para quem estiver em Lisboa, se ficar curioso, pode experimentar na loja do Príncipe Real.)