9 MESES E MUITAS CRIANÇAS

Boletim de saúde de uma criança que está no Programa
Porque a inspiração para contos nem sempre me assiste e porque hoje é dia de comemoração, falo-vos sobre o meu trabalho!

Faz hoje nove meses que, através da Associação Helpo, iniciei o Programa de Acompanhamento Nutricional Materno-Infantil no distrito de Cantagalo em São Tomé e Príncipe. Nove meses com muitas emoções e aprendizagens, nove meses a compreender as mães e as famílias santomenses, nove meses de muita paciência e perseverança com estas senhoras, nove meses de bom convívio com uma equipa santomense de saúde, nove meses que completam 2 anos e meio em África e, essencialmente,  nove meses de bons resultados - a ver as curvas de crescimento das crianças a rumarem a valores saudáveis.

Foram nove meses com um pequeno intervalo pelo meio para sair da roça e ir à cidade falar com Ana Rita Clara sobre este projecto. Deixo-vos o vídeo para recordação, não vá alguém passar por aqui e querer saber mais e quem sabe apoiar de alguma forma :)!

A NOITE RURAL EM ÁFRICA

Através do vidro do carro o movimento perde algum som. Mas à medida que o sol se põe os sentidos ficam mais atentos. Aquele lugar onde não há electricidade, onde vivem dezenas de pais, mães e cinco vezes mais filhos, obedece aos horários que a natureza impõe. A luz é vida e a noite é consternação. Ainda é cedo, são 17h30 e as fogueiras já ardem para preparar o jantar. A partir dali o silêncio e a escuridão impõem-se gradualmente. Depois ficam apenas os animais, que ladram, uivam, assobiam, mexem no que estava imóvel. Tudo isto acusa natureza. Mas é a pobreza que, mesmo quieta, mais mexe. Angustia. Entristece. Sente-se o cheiro a natureza, começou agora a chover. E a pobreza continua imóvel. Ali dentro também cheira a terra molhada. Dentro de cada casa a humidade há-de chover. Na noite vestida com a roupa suja de vários dias, há-de cair essa humidade e esfriar os pés. Em Janeiro, mês quente, até sabe bem, mas mais tarde... Mais tarde o frio desalenta. A noite traz a casa, mas a casa não traz o conforto. A noite desperta-nos os sentidos e os pensamentos. Afortunada por não viver ali, é o único conforto que esta imagem húmida e silenciosa me pode trazer.