A NOITE RURAL EM ÁFRICA

Através do vidro do carro o movimento perde algum som. Mas à medida que o sol se põe os sentidos ficam mais atentos. Aquele lugar onde não há electricidade, onde vivem dezenas de pais, mães e cinco vezes mais filhos, obedece aos horários que a natureza impõe. A luz é vida e a noite é consternação. Ainda é cedo, são 17h30 e as fogueiras já ardem para preparar o jantar. A partir dali o silêncio e a escuridão impõem-se gradualmente. Depois ficam apenas os animais, que ladram, uivam, assobiam, mexem no que estava imóvel. Tudo isto acusa natureza. Mas é a pobreza que, mesmo quieta, mais mexe. Angustia. Entristece. Sente-se o cheiro a natureza, começou agora a chover. E a pobreza continua imóvel. Ali dentro também cheira a terra molhada. Dentro de cada casa a humidade há-de chover. Na noite vestida com a roupa suja de vários dias, há-de cair essa humidade e esfriar os pés. Em Janeiro, mês quente, até sabe bem, mas mais tarde... Mais tarde o frio desalenta. A noite traz a casa, mas a casa não traz o conforto. A noite desperta-nos os sentidos e os pensamentos. Afortunada por não viver ali, é o único conforto que esta imagem húmida e silenciosa me pode trazer.

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