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Ilustração: Susan Gal |
Alexandra não percebe porque é que todos temos que viver ao
mesmo ritmo. Ela tem pressa para ser maior, tem pressa para ter corpo de
mulher, tem pressa para tirar o aparelho dos dentes, tem pressa para poder
comprar a própria roupa, para sair da escola primária que é sempre a mesma
coisa e passar depressa para a universidade. Que aborrecimento ter que passar
por todas as etapas como a Maria, a Eduarda e a Francisca. Elas não têm pressa
mas Alexandra tem!
Alexandra não tem calma porque sobra-lhe tempo e ela não sabe o que fazer com ele. Alexandra tem pressa porque também tem vagar.
Se ao menos fosse como nos contos infantis e existisse um
ponteiro mágico no seu relógio que acelerasse o movimento. Mas não. E Alexandra
continua dia após dia, aula após aula a pensar como será ser grande, poder ter
uma profissão, poder usar saltos altos, ter um telemóvel cheio de funções e ser
uma empresária cheia de afazeres. Às vezes desperta com um grito da professora
a repreendê-la por mais uma vez estar no mundo da lua! Alexandra olha para o
relógio e ainda faltam 36 minutos para a aula terminar. Que eternidade, está
com pressa de sair!
Acelerar significa aumentar
a rapidez, diminuir o tempo de espera - leu Alexandra no dicionário.
Mas como é que se pode acelerar o dia-a-dia, acelerar a
vida?
Alexandra pensou no botão do telecomando do leitor de vídeo,
aquele que se chama fast forward e que
acelera as imagens e começou a traçar um plano.
1- Vestir à pressa.
2- Engolir o copo de leite de uma vez só.
3- Lavar os dentes apenas uma vez por dia e depressa.
4- Não andar, correr para todo o lado.
5- Aprender a matéria da escola depressa. (Aprender depressa?
… Hum, esta vai ser difícil, é melhor trocar por escrever depressa e fazer
contas à pressa).
6- Mastigar pouco para almoçar e jantar mais depressa.
7- Contar carneiros a correr para adormecer mais depressa.
Assim, depressa será amanha!
E assim fez. Alexandra vestiu à pressa e nem se apercebeu
que tinha um sapato de cada cor. Engasgou-se com o leite e sujou a camisola
toda, mas não podia perder tempo a trocar. Guardou para a noite lavar os dentes.
Correu para a escola porque não podia esperar pelo autocarro. Escreveu tão
rápido que a professora não percebeu uma única palavra da composição. Mastigou
rápido e nem saboreou. Contou carneiros, contou durante tanto tempo que já ia
no número 12565 e o sono ainda não tinha aparecido. Estava muito acelerada, a
Alexandra, mas o seu relógio não acelerou. Vai demorar exactamente o mesmo
tempo a amanhecer novamente. Toda a pressa foi em vão. E com este pensamento
adormeceu…