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A DEFESA DOS ALIMENTOS NATURAIS

Somos uma geração do século XXI, geneticamente próxima do Paleolítico, a viver com profundas modificações da alimentação e novos padrões de estilo de vida que nos empurram para as “doenças da civilização”.

Hoje não tive tempo para escrever nada, então deixo aqui um pouco do que li. Neste artigo do Professor Pedro Moreira, gostei especialmente deste parágrafo, que tão bem retrata o desentendimento entre o nosso organismo e os novos "alimentos". Podem ler todo o artigo aqui.

A nutrição das horas vagas

Moderar discussões, adaptar comentários e ignorar exibições. Esta podia ser a profissão médica que não obriga a fazer turnos e que podia garantir um emprego das 9h às 5h, mas não é! Ser nutricionista é ter uma profissão a tempo inteiro, é ser nutricionista nos almoços e nos jantares de amigos, nos encontros familiares e em todas as situações prováveis e improváveis onde possa vir à tona o tema nutrição. É um tema que se presta a sensacionalismos, o que explica o confronto de ideias que se geram em torno de todas as evidências e contra-evidências de fontes seguras e não seguras que envolvam saúde e nutrição. Falar de alimentação é um tema que agrada a todos e que pode ser moldado a qualquer área de interesse, seja a culinária, a sociologia, a tecnologia, o marketing ou a saúde. E aqui se gera a confusão. Aqui se entra em confronto e se confundem as coisas de tal maneira que o senso deixa de caber no mesmo saco. Uns fazem verdadeiros horóscopos com qualquer alimento saudável "come mais cebola que tem faz bem ao sangue!", acertam quase sempre. Outros já têm em casa as novas bagas originárias do Brasil que tomam diariamente ao pequeno-almoço e que são a melhor promessa de rejuvenescimento, segundo uma revista de moda. Beber água às refeições faz engordar, acreditam outros convictamente. Aos nutricionistas resta simplificar o complicado sempre que solicitados (e enquanto houver paciência!). É um trabalho de saúde pública constante e não menos importante que no horário de expediente, vos garanto! Mas vamos mudar de assunto...




Porque calor pede bebidas refrescantes e corpos airosos

"De manha tomo café, respondeu Pereira, e depois almoço e janto, como toda a gente, é muito simples. E o que come habitualmente, perguntou o doutor Cardoso, quer dizer, que tipo de alimentação tem? Tortinhas, ia responder Pereira, praticamente só como tortilhas, porque a minha porteira me deixa pão com tortilhas e porque no Café Orquídea só servem omeletes com salsa. Mas sentiu-se envergonhado e respondeu outra coisa. Um alimentação variada, disse, peixe, carne, verduras, sou bastante frugal a comer e como de um modo racional. E a sua obesidade quando começou a manifestar-se?, perguntou o doutor Cardoso. Há uns anos, respondeu Pereira, depois da morte da minha mulher. E quanto a doces, perguntou o doutor Cardoso, come muitos doces? Nunca, respondeu Pereira, não gosto, só bebo limonadas. Limonadas como?, perguntou o doutor Cardoso. Ao natural, de limões espremidos, disse Pereira, gosto de limonadas, é refrescante e tenho a impressão de que me fazem bem aos intestinos, porque tenho muitas vezes os intestinos desarranjados. Quantas por dia?, perguntou o doutor Cardoso. Pereira reflectiu uns instantes. Depende dos dias, respondeu, agora no Verão, por exemplo, aí umas dez. Dez limonadas por dia!, exclamou o doutor Cardoso, doutor Pereira  acho isso uma loucura, e diga-me, põe-lhes açúcar? Encho-as de açúcar, disse Pereira, meio copo de limonada e meio de açúcar."

excerto de Afirma Pereira de Antonio Tabucchi



Independentemente do âmago, o rigor deve ser o mesmo

Fisiologicamente funcionamos de forma igual mas, quando há um desequilíbrio da nossa "máquina", o código de reparação é certamente bem diferente. Enquanto nutricionista esqueço parte da bibliografia que tanto usei num país desenvolvido e avanço para uma identificação detalhada de todas as ferramentas que me podem ser úteis aqui. Começo por conhecer bem todos os alimentos disponíveis e o seu valor nutricional, junto todo o conhecimento empírico dos locais, identifico os tratamentos disponíveis a nível dos cuidados de saúde e tento elaborar os meus próprios códigos. Faço-o com toda a cientificidade que me for possível. E aqui é que está a maior dificuldade do nutricionista que trabalha num país em desenvolvimento - é a curta obra bibliográfica, tudo aquilo que já foi feito e reportado especificamente para estas condições.

Se me perguntarem se é mais importante trabalhar aqui ou num país desenvolvido, a minha resposta é que é igual. Cada um com os seus problemas. Se me perguntarem onde é que é mais difícil trabalhar, então respondo que é aqui, onde há menos ferramentas. O que me move por cá não é a caridade. Também não é o sabor tropical do dia-a-dia. É essencialmente sentir que há menos remadores deste lado, que cada trabalho que eu e a meia dúzia (não mais) de nutricionistas fazemos aqui aproxima o conhecimento ao do "mundo desenvolvido".

Mais vezes este será tema neste blogue.